domingo, 20 de setembro de 2009

Sem ética pode haver progresso?

A ética orienta e solidifica o progresso. Ao longo dos anos, a humanidade tem se dedicado à busca de mecanismos e processos capazes de explicar suas origens, gerar longevidade e melhoria na qualidade de vida. Nesses pilares está apoiada grande parte da motivação das ciências desenvolvidas pelo homem. A evolução conquistada através de mudanças nas práticas e ideologias do passado e do presente caracteriza o progresso, mesmo que situado em diferentes campos de pensamento.
O momento que antecede a ação capaz de modificar ou conservar os métodos em uso pode ser decisivo para que esta traga bons resultados. Nesse sentido, a ética atua como reflexão necessária para analisar a eficiência e as implicações dos atos planejados para alcançar o progresso. O exercício da ética se faz presente, quando as idéias de um indivíduo entram em contato com o ambiente externo e com os códigos morais que o norteiam. A ação será ética desde que seja resultado de alguma meditação e, leve em conta o interesse social em detrimento do benefício particular. A transformação social concebida sem o amparo da ética pode levar a resultados distintos, que não logrem necessariamente o progresso. As mudanças que atendem a pleitos específicos e a grupos restritos, por vezes, são responsáveis pelo acirramento de diferenças étnicas e pelo aumento da desigualdade social.
É preciso considerar, no entanto, que a complexidade inerente à sociedade, pode fazer com que políticas criadas para representar as necessidades de um determinado grupo, tomem maior proporção e tragam benefício em maior escala. Para esta constatação, basta considerar as práticas que envolvem um sistema social como o capitalismo, baseado na economia de mercado e na produção privada. Por vezes, a função do governo é voltada para garantia de um ambiente propício para atrair investidores, que por sua vez tem no lucro seu principal objetivo. O escopo das ciências e atividades humanas tende a se deslocar do ideal de progresso social, para finalidades mais imediatas. Contudo, por mais que se queira traçar uma análise pessimista deste cenário, é necessário que se leve em consideração a evolução alcançada por iniciativas particulares. Um exemplo disso pode ser retirado da primeira metade do século XIX, quando foi construída a primeira estrada de ferro do mundo ligando as cidades de Manchester e Liverpool na Inglaterra. O empreendimento gerou conflitos e desapropriações, nesta primeira empreitada e em vários lugares onde o projeto foi repetido, houve violência e autoritarismo. Apesar de não contemplar todo o ambiente social, não se pode negar o progresso conquistado através de um interesse específico.
É imperativo, no entanto, que a evolução seja fruto de um planejamento igualitário e não uma remota conseqüência. No Brasil a representação dos interesses sociais aponta para uma democracia que se ergue sobre uma sociedade segregada e com proporções díspares de direito a fala. Negligenciar as necessidades de qualquer uma das parcelas da população pode trazer efeitos colaterais que afetam negativamente a auto-estima do povo, uma vez que diminui a perspectiva de melhoria e a credibilidade para com seus representantes.
Para que se possa almejar o progresso efetivo e durável, de modo a evitar as contrapartidas das ações que atendem a interesses particulares, é indispensável o exercício da ética, capaz de orientar e projetar a repercussão de um ato no momento que o antecede. O bem comum contemplado pela ética é o caminho para que o progresso seja o objetivo e não uma entre tantas conseqüências possíveis.